Review: Problema Meu - A Reinvenção de Clarice Falcão
Quando pensamos na cantora, compositora, atriz e
roteirista Clarice Falcão, uma das primeiras imagens que nos vêm à cabeça é
aquela garota tímida que postava vídeos no youtube em 2011, apenas voz e
violão, nos encantando com suas canções de amor. Também nos lembramos de sua
participação atuando em diversos vídeos do canal brasileiro de esquetes Porta
dos Fundos e dos filmes que participou. A pernambucana estava se dedicando à
sua carreira de atriz até que em 2012 lançou seu primeiro EP, que levava seu
nome. Um ano mais tarde, seu álbum de estreia chamado Monomania foi lançado. O
título resume bastante o álbum de pouco mais de meia hora de duração: quatorze
canções monótonas sobre amor, na sua forma mais descontrolada, exagerada, obsessiva,
apaixonada. Monomania é um álbum muito morno, agradável de ouvir e que segue
basicamente a mesma estética do primeiro segundo até a última canção.
Alguns anos se passaram, Clarice saiu do Porta dos Fundos
para se dedicar estritamente à sua carreira musical e lançou recentemente seu
mais novo álbum, Problema Meu. O single Irônico foi lançado algumas semanas
antes do álbum e era notável a mudança do estilo de Clarice, e assim como
muitos, eu não estava pronto pra essa mudança. Mesmo sendo difícil se
desprender das adoráveis canções acústicas, minimalistas e simples de
Monomania, está enganado quem pensa que vai se decepcionar com essa nova obra.
Nesse novo trabalho, Clarice elevou sua música a um novo patamar
revolucionando-a: o disco é uma salada de estilos que vai do rock até o brega, passando
por folk, disco music e encantadoras baladas que com certeza vão surpreender. E
essa mudança flui de uma forma muito harmoniosa, diversificando a sonoridade do
álbum, o que além de deixá-lo mais interessante, mostra a capacidade da cantora de trabalhar com diversos estilos musicais.
É difícil não comparar material novo com obras passadas
de um artista, e nesse caso é essencial relembrar do primeiro disco de Falcão:
a evolução da cantora é gritante, não foi apenas a produção das canções que foi
incrementada, houve um crescimento muito grande. As canções que antes falavam apenas de amor
ainda estão presentes, mas agora de uma forma muito mais madura e libertadora. Ao
mesmo tempo em que o personagem dependente e possessivo de Monomania não está
presente em Problema Meu, vemos que a cantora não mudou sua essência: as
ironias foram intensificadas e ainda há canções melancólicas como Se Esse Bar
Fechar, exageradas e divertidas com Vinheta e baladas amorosas como Duet e o
cover L’amour Toujours (I’ll fly with You).
Se Problema Meu pudesse ser resumido em duas palavras, as
mais adequadas seriam ‘maduro’ e ‘confiante’. Clarice evoluiu como artista, como
cantora e como compositora, a voz
meiga e tímida presente no primeiro álbum foi dominada pela sonoridade segura que é imposta no segundo. Se em Eu Esqueci Você ela se
enganava, mostrando que ainda era vulnerável e entregue ao rapaz, em Eu Escolhi
Você ela diz que o escolheu por falta de opção. Em meio à ironia, há um
crescimento sentimental muito grande, misturado à recaídas aceitáveis, como em
Deve ter Sido Eu. Em Vagabunda, ao invés de chorar e reclamar pela traição do
amado, ela chama a inimiga para tomar um chopp, pois ela é a única que poderia
entender. Na divertida Como É Que Eu Vou Dizer Que Acabou, (uma das melhores do
álbum) a artista busca formas de explicar, se enrolando falando de política,
elefante, pensamentos repentinos e outras coisas.
Na canção Marta, Falcão monta uma conversa imaginária em sua
cabeça criando relações com uma pessoa que ela não conhece, a não ser por
receber suas mensagens por engano. Já em Eu Sou Problema Meu a cantora grita sua
libertação em um hino que desafia pensamentos da ideia de
posse em um relacionamento. Na última canção do álbum, Clarice faz uma
autocrítica a suas canções antigas, algo como um julgamento em terceira pessoa
dizendo que não é boa o suficiente, que sempre usa os mesmos três acordes e
letras que falam da mesma coisa.
Cada detalhe desse álbum mostra um grande crescimento artístico, isso sem diminuir de forma alguma seu trabalho anterior, visto que é um
álbum completamente diferente. Problema Meu possui uma grandeza tão significativa
que é difícil resumir em palavras, só apreciando sem nenhum preconceito essa
obra prima para entender sua dimensão e se envolver no universo de Clarice, que
passa uma mistura enorme de sentimentos em apenas quarenta minutos.
Nota: ★★★★★
Publicado por: Luccas Emanuel
Publicado por: Luccas Emanuel
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