Review: Witness - Katy Perry

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     Na última sexta feira (09) a cantora Katy Perry lançou seu quarto álbum de estúdio, titulado Witness, pela Capital Records. O álbum possui múltiplos estilos que combinam entre si, mantendo uma identidade característica que faz referências aos anos ’80 e synthpop, além de canções eletrônicas e minimalistas, sem dispensar as baladas.

     Semanas antes do lançamento de Witness, Katy postou um vídeo mais intimista em sua conta particular do youtube para divulgar seu novo material, confira abaixo.

“Você consegue me enxergar? Quero dizer, eu sei que você consegue me enxergar, mas você consegue realmente me enxergar? Meu nome é Katheryn Hudson. Eu sou vulnerável e forte. Eu sou mulher e artista. Sou liberal, pateta e nem sempre estou certa. Eu sou Katy Perry, e não sou apenas uma coisa.”
     Katy fez um hiato após a turnê do álbum Prism, lançado em 2013, para descanso e pesquisa e desenvolvimento de seu novo projeto. Até o final de 2016 ela e sua equipe trabalhavam com mais de 40 faixas. Na época, a cantora contou ao radialista Ryan Seacrest que estava em busca de trabalhar com produtores diferentes, experimentando novos estilos.  A composição do álbum foi feita majoritariamente pela própria Katy em companhia de Max Martin, Ali Payami, Shellback, Jack Antonoff e Sia. Além de Martin, Payami e Shellback, a produção também tem participação de Purity Ring, e Mike WiLL Made It. 

“Vamos chamar essa nova era de pop com propósito”

     Em uma transmissão ao vivo no youtube, Katy apresentou algumas canções acústicas e explicou o nome de seu álbum. A cantora conta que após a promoção de seu álbum anterior, Prism, um homem a perguntou: “Se você fosse escrever uma canção agora, qual seria o nome dela?”. Ela diz que rapidamente respondeu “Witness”, pelo significado pessoal que a palavra tinha para ela, sobre querer ser testemunha da vida das pessoas e fazer histórias com sua observação.

     A capa de Witness mostra Katy loira com o cabelo curto, maquiagem pesada e estilo oitentista. Em entrevista ao programa Jimmy Fallon ela explica o conceito de sua capa. 
“Sabe, às vezes quando você vê um olho extra, você o veria como um terceiro olho, e pra mim é como se através dessa jornada, [...] eu tenho sido capaz de compartilhar com vocês dez anos de música e eu sou muito grata por isso, mas para mim a parte incrível é que a música tem me permitido viajar. O que reeducou minha mente e mudou muito minha perspectiva, e também minha educação e minha consciência vêm da minha voz, e é assim que eu sou. É desta forma que eu testemunho você e você me testemunha e eu acho que é por isso que o olho está dentro da boca.”

Witness
“Estamos todos apenas procurando por uma conexão.”
     A canção título nos introduz a sonoridade deste álbum, que começa com acordes de piano e dedilhados de violão que logo se transformam em uma crescente batida direcionando para um envolvente refrão. O piano dá um aspecto retrô e se mostra bem presente em boa parte da canção, que termina com assobios. Na letra, Katy demonstra que procura por um parceiro que seja testemunha das coisas que acontecem em sua vida, alguém que apoie, entenda e esteja com ela em seus piores momentos. No final de maio de 2016 um hacker vazou a versão demo da canção, que possuía mais de um minuto de apenas instrumental e menos estrofes. 

Hey Hey Hey
“Você acha que estou despedaçando, mas você não pode me quebrar.”
     Ponto forte do álbum, com um enorme potencial para ser single. A canção é animada e comercial sem ser previsível e genérica, com um refrão chiclete que provavelmente vai ficar na sua cabeça por um bom tempo. Hey Hey Hey é um hino contra o estereótipo de que garotas são inocentes e frágeis. Katy declara ter um grande cérebro e um rosto bonito, além de cantar que ela pode ser feminina e fofa, mas ainda assim ser forte, independente e confiante. Que ela pode “cheirar como uma rosa e perfurar como um espinho, [...] uma Marilyn Monroe em um trator”. GIRL POWER!

Roulette
“Vamos deixar a segurança de lado por um minuto.”
     Roulette flerta com o synthpop, estilo que se mostra presente em alguns pontos do álbum. A faixa tem uma sonoridade futurista com uma pitada de disco music. Alguns fãs comentaram que sonoramente, a canção parece ter sido algo feito por La Roux, ou até Lady Gaga no início de carreira. Nessa canção, Katy se mostra cansada da rotina, e canta sobre a volta de um antigo amante em sua vida. Ela utiliza essa ocasião como artifício para se divertir, abaixar a guarda e se arriscar um pouco. Ela faz uma relação ao jogo de azar roleta russa, dizendo que seu amor é como uma bala e que basta carregar e girar o tambor da arma.

Swish Swish (feat. Nicki Minaj)
“É engraçado como meu nome continua saindo da sua boca”

     A canção tem produção bem minimalista e segue o padrão de Witness, principalmente pelas batidas envolventes contracenando com acordes de piano. Swish Swish contém sample da canção Star 69 de FatboySlim e um potencial bem grande para tocar nas rádios e em festas aí afora. Katy definiu Swish Swish como uma canção sobre escapar de negatividade inútil. Um recado para seus  inimigos e haters, dizendo que não importa o quanto tentam a boicotar e falar coisas contra ela, ela continuará fazendo sucesso. O verso de Nicki Minaj energiza a canção e completa a ideia cantada por Katy. Há especulações quase confirmadas nas entrelinhas que mostram que a canção seria uma alfinetada para Taylor Swift e Remmy Ma, artistas que Katy Perry e Nicki possuem certa rivalidade, respectivamente. 

Déjà Vu
“Porque todos os dias são iguais”
     Déjà Vu segue a identidade de Roulette e Witness, porém mais lenta. Misturando R&B e eletropop, Déjà Vu conta a história de um relacionamento estagnado sem futuras perspectivas, onde tudo soa como um eco de um amor que não existe mais, torturando as pessoas envolvidas. Katy canta que essa situação apenas está andando em círculos, deixando-a insana. No refrão, ela parafraseia suposto dizer de Albert Einstein: “A definição de insanidade é fazer a mesma coisa repetidamente e esperar resultados diferentes”.


Power
“Você não pode silenciar esse trovão”
     Definitivamente a canção mais estranha do álbum. Contém influência dos anos 80, além de uma bateria elétrica bem marcante e toques psicodélicos, que podem causar estranhamento (ou admiração) nas primeiras ouvidas. Em Power, Katy canta sobre um relacionamento destrutivo que sugou suas forças. No entanto, ela é positiva e mostra seu empoderamento diante a situação e canta: “Você não pode cortar minhas asas e fazer murchar minhas flores. [...] É melhor você mostrar algum respeito, estou cansada de você drenando meu poder”.

Mind Maze
“O que costumava me estimular, agora mal me tira da cama.”

     Mind Maze é mais lenta e possui sintetizadores e uma interessante batida. Os vocais do refrão são carregados por um efeito que lembra autotune, usado para dar um tom futurista à canção, além de servir de referência à ilusão e pontos negativos da fama. O título pode ser traduzido como “Labirinto Mental”, e já nos dá uma dica do que a canção se trata.  Nessa música, Katy fala sobre problemas psicológicos e saúde mental, estar desencantada em relação ao mundo, presa em sua mente lutando consigo mesma. Em meio à vontade de “se submeter a doce rendição”, ela busca maneiras de se libertar e se encontrar novamente. Em uma transmissão do youtube, a cantora conta que essa canção fala sobre sua luta contra o álcool, usado para esquecer seus problemas.

Miss You More
“Você já se perguntou o que nós poderíamos ter sido?”
     A oitava canção do álbum é uma deliciosa balada que lembra a atmosfera de Prism, álbum anterior da cantora. O instrumental é recheado com lentos acordes de piano eletrônico e estalos de dedos, criando um clima interessante que Katy usa para demonstrar seu potencial vocal. A letra de Miss You More conta sobre um relacionamento antigo, e o fato do sentimento de saudade ser maior do que o amor sentido no momento. A cantora faz uma clara relação à luta de deixar alguém ir quando um relacionamento acaba, mesmo quando não estava mais dando certo. Há especulações que essa canção seja uma resposta para John Mayer, que em fevereiro lançou a música Still Feel Like Your Man e declarou ser para Katy. Os dois namoraram por dois anos, terminando em 2014. 

Chained to the Rhythm (feat. Skip Marley)
“É tão confortável viver numa bolha”
     Primeira canção divulgada do álbum, Chained to the Rhythm é uma faixa muito dançante com um refrão propositalmente grudento e inspirações de eletropop e disco music. Katy tem uma epifania social e na letra se questiona sobre a vida moderna, onde vivemos em uma falsa utopia, alienados pela mídia e agindo sem ter pensamento crítico (e a forma que aparentemente não nos importamos com isso). O vídeo faz uma crítica óbvia e direta que evidencia o conceito da música, mostrando como somos controlados pelo sistema, além de conter críticas diretas ao sexismo, mídia social e o american way of life. Também é possível ver pessoas em rodas de hamster, correndo e não indo a lugar algum.  A canção faz uma referência clara à frase de Karl Marx: “Os trabalhadores não têm nada a perder [...] a não ser suas correntes”, e o verso de Skip Marley evidencia isso, além de se encaixar muito bem com a canção.

Tsunami
“Você está acordando um oceano de emoções que meu corpo não consegue esconder.”
     A décima faixa do álbum soa moderna e envolvente e se parece muito como uma canção tirada do álbum do Tame Impala. Durante a música, Katy faz diversas comparações entre o amor/sexo e o oceano, com conotações sexuais perceptíveis, porém não tão óbvias. Um tsunami é uma enorme onda causada por um terremoto, de forma que não há muito a se fazer para escapar de um. Katy faz um convite para nadar com ela e se render ao prazer. O refrão diz “Não tenha medo de mergulhar profundamente e começar um tsunami”.


Bon Appétit (feat. Migos)
“Quero te manter satisfeito, o cliente está sempre certo”
     O segundo single do álbum é uma poderosa canção pop com uma vibração dance e eletropop contagiante. A recepção da música foi mista pelos fãs, que nas primeiras ouvidas declararam detestar a canção, mas logo a aprovaram. Em Bon Appétit a cantora novamente lida com assuntos delicados, questionando costumes da sociedade. Ela coloca em discussão a deliberação sexual feminina por escolha e ao mesmo tempo, a objetificação e hipersexualização do corpo feminino. Na letra e no vídeo, ela se mostra como o prato principal, pronto para ser desfrutado, comparando-a como um pedaço de carne, além de indiretamente colocar em pauta a causa animal, visto que no final do clipe é possível ver humanos capturados e explorados da mesma forma que nós fazemos com os animais, invertendo os papéis.

Bigger Than Me
“Se eu não estiver evoluindo, sou apenas mais um robô que absorve oxigênio”
     Katy continua explorando a dance music em Bigger than Me, que possui uma proposta envolvente que mistura o que já ouvidos do álbum até agora. A música é animada e bem dançante, possuindo uma melodia que causa a sensação de uma aura tecnológica e futurista. Na canção, Katy fala que ela percebe situações que ela considera erradas (como já comentadas anteriormente no álbum), e não acredita que possui poder suficiente para causar a mudança por ser apenas um grão de areia. Mesmo assim, ela acredita que não há outro caminho para percorrer, e diz que mesmo se ela tente ignorar o problema, suas esperanças são restauradas pelo desejo de mudança.

Save As Draft
“De que vai adiantar reabrir a ferida?”
     A canção segue a mesma atmosfera de Miss You More, uma belíssima e forte balada romântica onde os vocais de Katy se sobressaem. Save As Draft fala sobre as dificuldades em superar um relacionamento que terminou deixando pontas soltas, fazendo relações com nosso comportamento em redes sociais (desabafo, difamação etc). A canção se inicia com sons de digitação no teclado, e o ritmo é definido por essas batidas, o que além de ser uma ideia muito interessante, caracteriza o sentido da música. No relacionamento, parece que ambos estão passando por mudanças, e o desejo de entender as coisas é quase proporcional à quantidade de menções no twitter. Em meio a lutas internas e manipulação dos fatos, Katy se encontra escrevendo um e-mail para o ex em tentativa de esclarecer fatos e colocar um ponto final na história. Ela escreve e apaga a mensagem diversas vezes, ainda influenciada pelas emoções. Depois de hesitar um pouco, resolve dar um tempo e salvar a mensagem como rascunho.

Pendulum
“A vida é um pêndulo: tudo vai voltar uma hora”
    Pendulum tem a intenção de ser uma canção que ajuda a ser quem somos e se libertar do que nos diminui. O piano é bem demarcado na canção, e ela possui influências da música gospel (cenário em  que Katy cresceu) e um coral que evidencia isso. A letra nos convida a aceitar as mudanças em nossa vida e confiar no carma, não lutar contra quem somos e que não importa se alguém tentar te diminuir e se passar por inocente, uma hora a verdade será desmascarada. É feita uma óbvia referência ao pêndulo de Newton, objeto criado para representar a lei da ação e reação. 

Into Me You See
“Eu estava petrificada, só sabia me esconder.”
     O álbum termina com uma balada formada quase que inteiramente por piano e voz, lembrando By the Grace of God, do álbum anterior. Katy se encontrava sem perspectivas, trancada em uma vida de fachada. Construiu muralha em sua volta para que ninguém pudesse atingi-la e se satisfazia ao viver de máscaras. Então, ela encontra alguém que enxerga sua beleza interior e liberta uma melhor versão de si que ela mesma não conhecia. No refrão ela faz um jogo de palavras combinando a pronúncia de 'intimidade' (intimacy em inglês) e 'você vê o meu interior' (into me, you see). Katy define esta como a canção mais íntima de Witness. Ela conta que o álbum fala sobre buscar ouvir e entender mais as pessoas e testemunhar suas histórias. Estar junto a elas por diversos momentos e enxergar o interior de cada um, quebrando o medo da intimidade. 



Há uma versão especial do álbum que contém duas faixas bônus exclusivas, que pode ser adquirida na loja Target.

Dance With the Devil
“O que vale a pena quando minha cabeça gira com dúvidas?”
     Dance with the Devil é uma canção pop de produção mais crua em comparação com o restante do álbum, e por mais que seja animada, carrega em suas batidas o peso da mensagem cantada. Nesta música, Katy mistura os sentimentos de Mind Maze e Déjà Vu, de forma mais intensa e íntima. Novamente, ela se refere aos seus problemas com bebida e a forma que ela bebe para ignorar o que tinha se tornado. Ela fala sobre os demônios internos que luta todos os dias, tentando se libertar da insanidade causada por eles. No final da canção, ela grita para si mesma que não precisa daquilo, como uma forma de se convencer e também de buscar forças. Em uma transmissão no youtube, a cantora declarou que não precisa mais da bebida porque está orgulhosa de quem ela é por completo.

Act My Age
“Não me importo com o que dizem, não vou agir de acordo com minha idade.”
     Act My Age finaliza a versão especial do álbum da melhor forma possível: uma grandiosa canção pop, caracterizando o retorno dos anos dourados da cantora. A música tem uma vibração positiva, batidas envolvidas e animadas, com dedilhados de guitarra que fazem a diferença. Katy diz que pode ter mais de trinta anos, mas que isso definitivamente não definirá suas atitudes ou pensamentos. Ela acredita na forma adolescente irresponsável de aproveitar a vida ao máximo (possíveis referências a Teenage Dream?), sem se importar com o que dizem. Ela nos encoraja a não alterar nossos sonhos ou nos sabotar com medo de julgamento alheio. 
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     Em resumo, Witness é um álbum completo. É ousado e inovador, confiante e vulnerável, moderno e retrô, e como ela mesma se definiu, não é apenas uma coisa. Katy Perry pôde demonstrar sua versatilidade e seu crescimento como artista. A cantora mostrou uma evolução significativa neste novo trabalho, explorando novos horizontes até de forma arriscada. 
Nota:

Publicado por: Luccas Emanuel

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